Coisas Giras de Portugal em 2012 (43)

«O presidente da Impresa, Francisco Pinto Balsemão, vai processar os autores do relatório de quase 40 páginas elaborado no seio da Ongoing, que dá conta de pormenores da sua vida privada e que indicia que esteve a ser espiado.

De acordo com o processo das secretas, que está no DIAP – Departamento de Investigação e Acção Penal – Jorge Silva Carvalho, ex-espião e então quadro da Ongoing pediu, no início de Setembro do ano passado, pediu a Paulo Félix, então quadro da empresa, que elaborasse um relatório sobre Balsemão, em especial informações financeiras como os empréstimos que o grupo Impresa tinha e quando venciam. Não se percebe de quem terá partido o pedido inicial, mas são conhecidas as guerras entre o presidente da Ongoing, Nuno Vasconcellos e o seu padrinho Francisco Balsemão.

O dono da Impresa vai “responsabilizar criminalmente os autores do documento”, que inclui “dezenas de calúnias e falsidades – algumas das quais de mau gosto e grotescas”. No relatório de quase 40 páginas há informações sobre as empresas de Balsemão, mas também muitos dados sobre a sua vida privada, alguns mesmo polémicos.

O autor do relatório incluiu mesmo correspondência que terá trocado com Marcelo Rebelo de Sousa, para saber informações menos conhecidas sobre Balsemão referentes ao tempo em que o professor era director do Expresso. O documento inclui uma biografia esquemática do patrão da Impresa, assim como um gráfico com uma lista com os seus amigos (como Artur Santos Silva ou António Guterres), aliados (onde se incluem Cavaco Silva ou Paulo Portas) e inimigos (como Nuno Vasconcellos e Rafael Mora, da Ongoing, José Sócrates ou Miguel Relvas (este por querer privatizar a RTP).

“Surpreendeu-me e chocou-me conhecer os métodos, os princípios e as práticas adoptados por pessoas e empresas que desenvolvem as suas actividades livre e impunemente numa sociedade democrática”, afirmou Balsemão em comunicado. “Quase 40 anos depois da instalação da democracia em Portugal, é lamentável que se continuem a praticar este tipo de métodos ‘pidescos’, que julgávamos erradicados e que o sistema judicial devia rapidamente punir, condenar e abolir”, remata.»

Maria Lopes (26/05/2012) (1)

«Adelino Cunha, membro do gabinete do ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, demitiu-se. Contactado pelo PÚBLICO, o antigo jornalista, que desempenhava as funções de adjunto de Relvas, recusou fazer qualquer declaração. A notícia da demissão foi avançada pela edição online da revista Sábado.

O pedido de demissão foi entregue nesta manhã e aceite pelo ministro, apurou o PÚBLICO, que também tentou contactar um assessor do ministro, mas sem sucesso. Segundo o que conta a revista, o Ministério Público terá encontrado, nos telemóveis do ex-espião Jorge Silva Carvalho, mensagens trocadas com o ex-jornalista que era adjunto do gabinete de Miguel Relvas. A existência destas mensagens também foi confirmada pelo PÚBLICO.

Em Setembro de 2011, o adjunto e o ex-espião combinaram falar através de um telefone fixo da Presidência do Conselho de Ministros e concordam em encontrar-se no Hotel Tivoli. “Entre 8 e 15 de Setembro de 2011, o adjunto e o ex-líder da “secreta” combinaram falar através de um telefone fixo, é referida uma ligação através dos telefones da Presidência do Conselho de Ministros e concordam em encontrar-se para beberem um café no Hotel Tivoli”, noticia a Sábado.

Contactado pela mesma revista, Adelino Cunha anunciou: “Apresentei o pedido de demissão, que o ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares aceitou.” Contactado pelo PÚBLICO, Adelinho Cunha foi peremptório: “Não vou falar.”

Uma das mensagens indicia o envolvimento do adjunto de Relvas na divulgação de que um envelope, sem remetente que tinha sido recebido pelo deputado do PS Sérgio Sousa Pinto, contendo uma cópia dos registos telefónicos do ex-jornalista do PÚBLICO e dois e-mails enviados por Silva Carvalho, tinha sido recebido pelo ex-director do SIED já aberto, um facto amplamente noticiado pela comunicação social.

Na altura decorriam os trabalhos da comissão parlamentar que analisou as fugas de informações nas “secretas” e o acesso a uma lista de contactos do então jornalista do PÚBLICO Nuno Simas, tendo o caso do envelope aberto sido divulgado pelo presidente da Comissão de Assuntos Constitucionais, Fernando Negrão, após a comunicação por email do advogado de Silva Carvalho, Nuno Morais Sarmento. (…)»

Maria Lopes (25/05/2012) (2)

«Adelino Cunha disse à revista “Sábado” que o seu pedido de demissão foi aceite.

Segundo a edição online da revista “Sábado”, foram encontradas mensagens ‘sms’ trocadas entre o adjunto e o ex-diretor do SIED Jorge Silva Carvalho entre 8 e 15 de Setembro de 2011.

Questionado pela revista, Adelino Cunha, ex-jornalista, terá dito: “Apresentei o pedido de demissão, que o ministro-adjunto e dos Assuntos Parlamentares aceitou”. Adelino Cunha acrescentou que conheceu Silva Carvalho antes de ser adjunto de Relvas, tendo continuado a contactá-lo por sua iniciativa quando já exercia funções no Governo.»

José Pedro Henriques (23/05/2012) (3)

« Este caso que cruza o ministro Relvas com o Público, com epicentro no ex-espião Silva Carvalho e nas suas ligações ao mundo da política, dos negócios e do jornalismo fez estragos que vão perdurar, ainda que os seus protagonistas mais directos escapem entre os pingos da chuva…

No mundo da política, só à esquerda do PS parece não haver constrangimentos na condenação do ministro mesmo antes de “provados” os factos vindos a público  sobre o envolvimento do ministro. Percebe-se porquê. No PCP e no BE não há ex-governantes porque as figuras do chamado “gonçalvismo” e do “PREC” há muito que se eclipsaram. Talvez não sejam mais “puros” que os outros três, mas não estiveram ou não estão  próximos do poder…do poder que deslumbra, cega e pode corromper.

No PS, reina a prudência na avaliação das notícias. Percebe-se que assim seja tendo em conta a experiência recente e actual  -veja-se a “crucificação” permanente de Sócrates e as  ”ameaças”, sempre pendentes, nas audições nas comissões parlamentares onde há sempre alguém pronto a  arrasar o governo anterior.

No PSD, nem se fala. Há os que abertamente dão a cara nas televisões  em defesa de Relvas – José Luís Arnaut, Matos Correia, Morais Sarmento; há os mais exigentes no apuramento dos factos – António Capucho, Paulo Rangel  e Marcelo que avisou desde início para o “erro de casting” que seria Relvas no Governo; e há Passos Coelho, “refugiado” na abstracção de frases como “não é timbre deste  Governo fazer pressão…”, talvez por saber que não pode dizer “não é timbre deste ministro fazer pressão…”. No CDS, o silêncio é a regra, ou não fosse Paulo Portas o único político a sério deste Governo.

No campo do  jornalismo, os estragos podem  ser, a longo prazo, avassaladores:  é o jornalista citado no processo como tendo dito (por sms) a Relvas, então dirigente do PSD,  que o ex-espião “os tem no sítio” (por se ter demitido do SIED), confirmando implicitamente o tipo de relacionamento com políticos que facilita confidências desta natureza e, por arrasto, “desculpando” a “conversa” de Relvas com a editora do Público; é o jornalista adjunto do ministro a ajudar o ex-espião a passar a ex-colegas nas redacções uma armadilha política montada para inculpar um partido da oposição acerca de um envelope com a lista dos contactos de outro jornalista; é a cumplicidade com as “fontes do processo”, que dizem  mais do que aquilo que está no próprio processo; e como se não bastasse, é o jornal cuja jornalista  foi vítima de coação  – o Público – a envolver-se em guerras internas que dão muito jeito ao ministro Relvas.

Por último, mas não menos importante, ficou a saber-se através de um “esclarecimento” do Público que o conteúdo da ameaça do ministro Relvas ao dizer que divulgaria na internet que a jornalista Maria José Oliveira “vivia com um homem de um partido da oposição”, é falso. 

Temos, assim, que a ameaça à jornalista Maria José Oliveira é também difamação. 

Estes são alguns dos estragos provocados pelo caso Público/Relvas, que é possível antever.»

Estrela Serrano (27/05/2012) (4)

«O presidente da ERC, Carlos Magno, gostou imenso da gravata que o ministro Miguel Relvas levou à audição. Disse-o, ficou gravado. E esse facto, tão simples como elucidativo, é uma pressão que fica a pairar sobre as conclusões deste processo.
( João Marcelino no DN)

Se a este facto, juntarmos o comunicado da ERC, sobre os comentários dos leitores do DN, ainda ficamos mais esclarecidos.
Mas, ao fim e ao cabo, não há novidade nenhuma. As pessoas que  mentem sob juramento e as que não as demitem por esse facto, correm para debaixo das saias (ou agarram-se às calças) de quem pensam ter o dever de os proteger.
O  importante é nunca esquecer isto: Está provado que Relvas mentiu  sob juramento.  O PM disse há duas semanas que, quem mentisse, saía do governo. Passou uma semana e o PM continua a assobiar para o ar. 
Perante tanta falta de vergonha , para quê preocuparmo-nos com os gostos de Carlos Magno?»

Carlos Barbosa de Oliveira (26/05/2012) (5)

«O Ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares há-de ir ao Parlamento, mas só depois da ERC acabar o seu trabalho, assim determinou a maioria na Comissão de Ética.
PSD e CDS não estão exactamente de acordo sobre esta matéria, e Mendes Bota tentou adiantar serviço, como conta a jornalista Natália Carvalho.

Paulo Rangel, eurodeputado, quer o “integral esclarecimento e o PSD deve ser o mais aberto possível“.»

Maria Flor Pedroso (23/05/2012) (6)

(1) Jornal Público.

(2) Com  Victor Ferreira e Mariana Oliveira, no Público.

(3) Com Lusa. No Diário de Notícias Online.

(4) Blogue Vai e Vem.

(5) Blogue Cronicas do Rochedo.

(6) No blogue Sem Embargo, dos jornalistas da Antena 1.

Fonte da Imagem: Kopfschrott.