Reduzidos ao código binário do “0” e do “1”, por Hugo Dionísio

(Os textos de Hugo Dionísio fazem de Putin quase um democrata…. coisa que ele nunca foi nem quer ser! Eu quero a derrota de Putin mas duvido que Hugo Dionísio queira isso. Eu quero que Putin não invada mais nenhum país da Europa e se invadir que seja punido por isso. No entanto, porque ele tem razão em tanta coisa neste texto, decidi que isto tem de ser divulgado.

Facto: Sim, estamos reduzidos ao “0” e ao “1”, e é assim que vamos ficar nos próximos tempos!

Ler também: Há ditadores e ditadores: os mauzões e os bonzinhos!, por J. M. Nobre Correia.)

«Enquanto mostravam triunfantes entradas – de mercenários americanos, polacos, ingleses e poucos ucranianos – em Kherson, assistidas pela meia dúzia de transeuntes e familiares de militares, oportunamente reunidos para a fotografia, 6 jornalistas da CNN e Sky News “enganaram-se” e, na ânsia de mostrar os acontecimentos antes dos outros, mostraram também o que não deviam: a repressão bárbara aos habitantes russófonos que ficaram para trás. Os 6 apressados “jornalistas” viram retiradas as suas credenciais e foram obrigados a abandonar o país. A situação não estava “estabilizada” disse Z. É assim o país de Z, tornou-se uma versão “estabilizada” para Hollywood filmar.

As imagens de punições sumaríssimas perpetradas por militares multiplicou-se nas redes sociais e, pasme-se, na imprensa empresarial ocidental. Contudo, enquanto nas redes sociais encontrámos as ditas imagens acompanhadas de veementes denúncias contra a barbaridade dos atos em causa, já na imprensa empresarial de Wall Street, o tom era triunfante: os “colaboradores” russos estão a “pagá-las”, isto enquanto mostravam imagens de seres humanos atados a postes, como os esclavagistas faziam aos escravos fugitivos para os castigar (alguém os ensinou, não é?) ou com a cabeça totalmente tapada com fita-cola.

A par do que tem sucedido desde 2014, a imagem de seres humanos UCRANIANOS russófonos suscita tanta rejeição junto dos modelos falantes funcionários da imprensa de Wall Street, como as imagens de palestinos mortos a tiro e a sangue frio pelas forças do apartheid sionista. Nem um “ai”. Toda a sua consternação se fica pelos – também desgraçados – escolhidos pelas cartilhas mais ou menos ocultas que recebem. Uns merecem, outros serão sub-humanos, segundo as suas classificações. Quem, como eu e muitos outros, se atravessa e diz: todos merecem a nossa fraternidade por igual, é logo catalogado com um inoportuno: “deves estar na folha de pagamentos de P.”.

Se dizemos: “esta guerra tem uma história”, “não começou em fevereiro, até onde a vossa moleirinha consegue ir, do ponto de vista histórico”; somos logo reduzidos a “fantoches de P.” e a propagadores de “desinformação de P.”. Contar a história toda, desde o início, ato por ato, acontecimento por acontecimento, como deve ser feito, para que quem interpreta possa ter uma visão geral e histórica dos fenómenos, passou a ser “propaganda” e “desinformação”. A “verdade” passou a ser contada como um conjunto de factos isolados, que por estarem desligados e desagregados da sua sucessão histórica. Assim contados, os factos isolados permitem uma manipulação fácil, mantendo escondidos os reais atores em confronto, ou mostrando apenas os atores que se pretendem estigmatizar, concentrando o foco nos factos que apenas estes iluminam.

E é esta lógica que justifica que se transmitam notícias como as que mostram a Itália de “Benita” Meloni desavinda com a França de Macron “Mackinsey”, por causa dos barcos de refugiados vindos do mediterrâneo, sem nunca, mas mesmo nunca, colocarem o dedo da ferida. É que, a par do gangue democrata de Obama nos EUA e da França de Sarkozy e da Itália de Berlusconi, não encontramos no mundo maiores responsáveis pela destruição da Líbia, que constituía um verdadeiro muro “à prova de migrantes” para a Europa. A par da Síria, da Jordânia, Tunísia ou Argélia, a Líbia era um dos maiores recetores de migrantes subsarianos. Hoje, nem ficam com eles, como é da própria Líbia e, agora já não tanto, da Síria, que tanta gente vem. Estes três enormes “democratas” e líderes do mundo “livre” destruíram a vida de dezenas de milhões de pessoas, sendo que, se a Síria com a ajuda dos “ditadores” do costume lá vai recuperando a sua dignidade, na Líbia vendem-se escravos e armas (vindas, quiçá, da Ucrânia) a céu aberto.

E assim se dividem os bons e os maus, o ditador e o democrata, o livre e o oprimido, partindo daí para o cancelamento de tudo o que é contrário ao que se diz, ou identifica o que se cala. Quem está do outro lado do ecrã e vê apenas a Imprensa de Wallstreet (que é que aparece nas TV’s, jornais e nas primeiras 50 ou 60 páginas do google sobre o assunto, nas notícias sugeridas e nos clippings recebidos ), passa a construir a sua opinião por reacção e não por dedução, indução, integração… A mente da maioria dos passivos transeuntes digitais funciona como o sistema binário do computador – ou é “1” ou é “0”. Qualquer posição intermédia tem de ser, necessária e forçosamente, arrastada para o 0 ou para o 1.

Enquanto mostram os pouquíssimos residentes restantes, nunca contando que de uma cidade de 280.000 habitantes, só já restavam 115.000, a esmagadora maioria dos quais pobres, que não puderam sair para este ou para oeste, e que, só com a ajuda russa, quase totalidade pôde sair dos alvo da artilharia de Z, normalmente apontada aos civis e não aos militares, como método de punição coletiva, bem conhecida da história, a imprensa de Wall Street nunca diz que, mesmo assim, restaram alguns pobres Ucranianos ucranianófonos, vivos e alimentados, o que já não acontecerá aos russófonos que também aí ficaram. Mais uns dias e também aparecerão as célebres “câmaras de tortura”, “camiões crematórios” e “valas comuns” ou “corpos nas ruas”, todas “culpa” dos mesmos de sempre. Há que fazer alguma coisa com os corpos destes desgraçados, que como os outros, nada têm a ver com esta guerra, mas que a pagam bem caro. No final da estória da carochinha e do João ratão, Z é “democrata”, P. uma “ditador”. O “0” e o “1”, para que as cabeças – pouco – pensadoras do ouvinte, compreendam bem e depressa a mensagem a passar.

E a mensagem é bem trabalhada. Ora veja-se só a “Integrity Initiative” (Iniciativa pela Integridade – esta na Iniciativa, diz muito, muito). Esta iniciativa visa, segundo o documento explicativo “defender a democracia contra a desinformação (tradução do inglês)”.

Nascida do “Disinformation Governance Board”, o órgão governamental criado pelo gangue Biden para combater a desinformação na Internet e que se tem comportado como um verdadeiro “Ministério da verdade”, mandando censurar o que não cabe na sua definição de “verdade” e propagar o que classifica como tal, esta “Integrity Initiative” é gerida por Nina Jankowicz (vão sempre aos russófobos do leste europeu), e trata-se de uma ONG americana, financiada de forma obscura pelo governo Inglês e Americano, recorrendo a outra ONG sediada na escócia – o “institute for statecraft (instituto para o “estadismo”).

E o que faz esta “Integrity Initiative”? Dedica-se a operações encobertas nos países ocidentais sob a capa do combate à “desinformação”. Esta organização é a responsável pela estereotipada e nada dissonante informação internacional que recebemos de todos – TODOS – os órgãos de imprensa empresarial nos países ocidentais e demais colónias no pacifico. E como o faz?

Esta ONG organiza “clusters (núcleos)” de influenciadores por cada país, identificando académicos, jornalistas, burocratas da segurança nacional, lobistas, membros de grupos de reflexão e outros profissionais que influenciam toda a uma rede informativa a partir daí construída. Estes “líderes” nacionais, passam a estar ligados a pessoas de contacto da ONG (que podem ser do Dptº de Estado, da CIA, da NSA; do MI6…) que fornecem a informação a passar.

Estes influenciadores, regra geral pouco conhecidos do público, como convém, têm de ser gente inteligente e capaz de dar solidez teórica à informação recebida, bem como ter capacidade de liderança para agregar os destinatários (jornalistas, comentadores, diretores de imprensa…) à sua volta. Mas estes influenciadores nãos e limitam a receber, mastigar e transmitir. Não. Também identificam linhas de “desinformação”, para que sejam “trabalhadas” por quem tem capacidade de decisão, normalmente gente que está para lá das pessoas de contacto da ONG. Trata-se de uma organização com comunicação bidirecional.

O resultado é uma cartilha. Esta cartilha estabelece as regras informativas – literalmente o que dizer em cada situação – relativamente a “fact-checking”, “interpretação de imagens”, “versões relativas a acontecimentos diversos” e “metodologia de análise”.

Mas a cartilha também tem regras sobre recrutamento, que perguntas fazer para se identificarem “pessoas de confiança” e por aí fora. É o que podemos chamar de Psyop, ou seja, um bom exemplo de operação de guerra psicológica.

Já antes havia falado do esquema de funcionamento da operação informativa sobre o conflito. Esta “integrity Initiative” trata de alimentar essa operação com informação e atores. Eis porque ouvimos as mesmas coisas, vidas de pessoas e órgãos que se dizem diferentes. Tudo estaria bem se fosse transparente, se as pessoas fossem avisadas de que o que estão a ouvir vem daqui. Mas não, o objetivo é precisamente o contrário, pois é essa opacidade que baixa as guardas mentais de quem está do outro lado da informação. Podem ver mais aqui (países, listas de pessoas, financiamento…): https://www.revolver.news/2022/05/biden-minster-of-truth-nina-jankowicz-and-the-secret-nato-funded-cabal-to-subvert-western-democracies-using-disinformation-as-cover/

Esta operação demonstra que não existe “informação livre” e que, ou vemos para além desta barreira de imprensa empresarial, um mero negócio lucrativo e um poder, não democrático, de manipulação de massas, ou seremos reduzidos a um mero processador que calcula entre “0” e “1”. Mas esta operação mostra, também, que a guerra era preparada e pensada há muito – como sabe quem segue a história – como parte de uma estratégia de domínio muito importante.

Este trabalho “encoberto” em matéria de informação não constitui, propriamente, uma novidade, pois é o próprio Frank Snepp, ex-agente da CIA (reformado) que vem confessar que, ele próprio, usando esquemas como as da “integrity Initiative”, fez passar na comunicação social ocidental todo um rol de notícias falsas. Ele disse “falsas”. Do tipo daquela que deu a Associated Press sobre Lavrov, dizendo que ele tinha sido hospitalizado. Afinal era mentira e a AP não tem qualquer fonte para mostrar.

Não sei o que teve a ver, mas a verdade é que o grupo de selvagens composto pelos “lideres do mundo livre”, como não conseguiram que o G20 aprovasse uma resolução a condenar a Rússia (valha o tal isolamento internacional), decidiram boicotar a célebre foto de grupo. Uma vez mais, é a lógica binária, a do “0” e do “1”.

Seja como for, estes conflitos têm uma importância reverencial para o Partido Democrata americano. Uma outra investigação jornalística descobriu que parte dos fundos multimilionários que são, por ordem de “Toy” Biden, transferidos para a Ucrânia, retornam aos EUA sob a forma de criptomoeda, envolvendo uma empresa chamada FTX. É o próprio Banco Central da Ucrânia que, através de um “protocolo” com a FTX, transforma a moeda local (que nada vale nos EUA) em algo que possa financiar o partido. Nada que admire, tal o nível de corrupção daquele regime.

E enquanto passam o mundo a preto e branco, eis que, o resultado da volta turística de Sholz à China já se faz sentir: a BASF vai deslocalizar-se. Mais uma empresa europeia que vai embora. Bem que, convém assinalar, não é para os EUA que vai, como esperaria “Toy” Biden, que com a estratégia de inflacionamento dos custos energéticos na EU, esperaria ver uma digressão em massa de grandes corporações para a Califórnia. Não… Vão para onde mais cresce a economia. Comos eria de esperar. Mas cumpre um dos objetivos: desarredar a europa como competidor dos EUA: e com ajuda da própria.

Uma vez rebentado o Nstream, desvalorizado o euro e adquiridos biliões de dólares em imobiliário nas nossas cidades, já dá para encetar negociações (já não tão) secretas em Ankara com a Rússia e tentar aliciar a China de Xi. Não me parece que Xi vá na conversa do “democrata” Biden… É assim com os “ditadores” modernos: raramente se vendem. E depois, lá vem o “0” e o “1”.»

Hugo Dionísio (1)

(1) No blogue Canal-Factual.