Leituras: Lendo Erich Fromm – parte 1

O Autor (1)

Erich Fromm (1900-1980) foi um psicanalista, filósofo e sociólogo alemão.

Era filho de judeus ortodoxos. Na universidade teve como professores, entre outros,  Alfred Weber (irmão do sociólogo Max Weber), Karl Jaspers, e Heinrich Rickert. Fromm doutourou-se em sociologia em Heidelberg em 1922.

Fromm na época envolveu-se fortemente com o sionismo, sob a influência do rabino religioso sionista Nehemia Anton Nobel. Ele era muito ativo no Studentenverbindungen judeu e em outras organizações sionistas. Logo se afastou do sionismo, dizendo que conflitava com seu ideal de “messianismo e humanismo universalistas”.

Na década de 20 do século XX trabalhou como psicanalista num sanatório em Heidelberg. Casou com a psicanalista Frieda Reichmann, que dirigia o sanatório, em 1926. Divorciaram-se em 1942. Após a tomada do poder pelos nazistas na Alemanha, Fromm mudou-se primeiro para Genebra (Suíça) e depois, em 1934, para a Universidade de Columbia em Nova Iorque (Estados Unidos). Juntamente com Karen Horney e Harry Stack Sullivan, Fromm pertence a uma escola neo-freudiana de pensamento psicanalítico. Horney e Fromm tiveram uma influência marcante no pensamento do outro.

Fromm ingressou no Partido Socialista da América em meados da década de 1950 e fez o possível para ajudá-lo a fornecer um ponto de vista alternativo às tendências macartistas de algum pensamento político dos Estados Unidos. Esse ponto de vista alternativo foi melhor expresso em seu artigo de 1961, May Man Prevail?, uma investigação sobre os factos e ficções da política externa. No entanto, como co-fundador da SANE, o ativismo político mais forte de Fromm foi no movimento internacional pela paz, lutando contra a corrida ao armamento nuclear e o envolvimento dos EUA na Guerra do Vietname. Depois de apoiar a derrota do senador Eugene McCarthy para a indicação presidencial democrata, Fromm mais ou menos se retirou do cenário político norte-americano, embora tenha escrito um artigo em 1974 intitulado Remarks on the Policy of Détente para uma audiência realizada pelo Comité de Relações Exteriores do Senado dos EUA. Relações.

Quando Fromm se mudou para a Cidade do México em 1949, tornou-se professor da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) e estabeleceu uma seção psicanalítica na faculdade de medicina de lá. Enquanto isso, lecionou como professor de psicologia na Michigan State University de 1957 a 1961 e como professor adjunto de psicologia na divisão de pós-graduação em Artes e Ciências da Universidade de Nova York depois de 1962. Lecionou na UNAM até à sua reforma, em 1965, e na Sociedade Mexicana de Psicanálise (SMP) até 1974. Em 1974 mudou-se da Cidade do México para Muralto, na Suíça, onde morreu.

Erich Fromm foi influenciado por Freud e Karl Marx mas procurou ultrapassar estas influências e criar uma teoria sua.

Medo da Liberdade

Escape from Freedom foi o seu primeiro livro, foi escrito em inglês (depois traduzido para alemão e outras línguas) e foi publicado originalmente em 1941. Foi reeditado em 1969.

Este é um livro sobretudo de psicologia e filosofia social mas também de política, economia e psicanálise. Por um lado a liberdade traz coisas muito boas (e indispensável ao ser humano) trouxe autonomia, auto-confiança, uma capacidade de duvidar e criar novas. Mas também trouxe solidão, ansiedade, isolou-o dos outros (tornou-o inimigo não-declarado dos outros por causa da competição permanente). Por isso, paradoxalmente, tem havido o desejo do individuo de abdicar dessa liberdade (às vezes tão ameaçadora). Tornamo-nos autómatos e conformistas. Um dos grandes momentos dessa abdicação deu-se na Alemanha, no nazismo chefiado por Hitler. Num dos capítulos o autor analisa profundamente esse fenómeno.

Mas este livro é muito mais do que a análise do nazismo. Erich Fromm analisa sobretudo a democracia e explica porque não somos tão livres como pensamos. E há a liberdade positiva e negativa. Para Erich Fromm o mais importante é a liberdade positiva.

Há um capitulo dedicado a Martinho Lutero, João Calvino e à influência do seu pensamento (influência religiosa e não religiosa) que me fez lembrar tanta coisa: os censores de livros e de arte norte-americanos, os terroristas da Al-Qaeda que usam as tecnologias de última geração para propagar a morte e as suas ideias político-religiosas, os evangélicos brasileiros apoiantes de Bolsonaro e tantos outros exemplos que poderia dar. Parece-me que todos foram influenciados de diferentes maneiras por Martinho Lutero e João Calvino embora poucos reconheçam essa influência.

Há partes do livro que parecem ter sido escritas ontem, de tão actuais que são. Adorei ler. E recomendo-o a todos os maiores de 18 anos.

Leitura de: Erich Fromm, Medo da liberdade (Coimbra : Ed. 70, 2023)

Nota Lateral 1: Sobre liberdade positiva e negativa Isaiah Berlin editou em 1958 o  ensaio “Dois conceitos de liberdade”, considerado um clássico sobre este assunto. Nesse ensaio ele argumentou que, historicamente, a utopia de liberdade positiva existe especialmente em regimes caracterizados por totalitarismo. Ainda não li esse livro.

Nota Lateral 2: Sobre a influência de Martinho Lutero e João Calvino há o livro A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo de Max Weber que foi editada em 1904 e é considerada um clássico. O autor cita-o. Também ainda não li.

Nota Lateral 3: Ao ler este livro lembrei-me de “Fascismo Eterno” de Umberto Eco e o O Eterno Retorno do Fascismo de Rob Riemen.

Nota Lateral 4: Encontrei a referência a este livro em O Futuro é História, de Masha Gessen. A autora cita-o quando explicar a ascensão de Putin. Trata-se de uma citação muito acertada.

Nota Lateral 5: Embora o autor praticamente não fale do conceito, a todo este livro está associada a ideia de que o livre-arbítrio e a liberdade têm limites económicos e sociais.

Nota Lateral 6: Recomendo este livro especialmente àqueles que acreditam na social-democracia (que neste momento é tão ou mais perseguida que o comunismo): é a solução proposta pelo autor.

Ver Também:

A escola de Frankfurt e a Teoria Crítica

A crise global e a dialética dos sistemas complexos

Erich Fromm and the Revolution of Hope por Kieran Durkin

Erich Fromm and the Mass Psychology of Fascism (entrevista com Kieran Durkin)

Paul Mason: “Temos que Aprender as Lições do Velho Fascismo Porque Nunca as Aprendemos Adequadamente” (entrevista a Paul Mason)

Greta Thunberg e o insano mundo dos normais por  Jonathan Cook

Investigação sobre o fim do “sonho americano” por  Eleutério F. S. Prado

(1) Fonte: Erich Fromm na Wikipédia em Inglês.