Urânio empobrecido para a Ucrânia: duas visões

(Facto: O urânio empobrecido não é a mesma coisa que armas nucleares. Outro facto: o urânio empobrecido vai matar muita gente no momento em que for libertado, mas muitos outros morrerão a longo prazo com doenças como o cancro.)

«Urânio empobrecido para a Ucrânia. Uma boa medida a caminho a vitória. As minições de urânio empobrecido resultam de processos de aproveitamento de combustível nuclear, e têm por fim produzir munições mais duras para penetrar blindagens. Apenas foram utilizadas por americanos e ingleses na guerra do Golfo e na Bósnia. Têm alguns efeitos secundários, mas que convenientemente nunca foram admitidos pelos utilizadores, Diversos estudos laboratoriais confirmaram que o Urânio-238 é tóxico para mamíferos, (mas não há mamíferos na Ucrânia), ataca o sistema reprodutivo e o desenvolvimento do feto causando fertilidade reduzida, abortos e deformações no nascituro. Os movimentos feministas devem alegrar-se com esta decisão inglesa de fornecer estas munições aos combatentes da liberdade da Ucrânia. Testes citológicos mostram que, à exposição crônica, o DU é leucogênico, mutagênico e também neurotóxico. Sabe-se que toda exposição a radiação ionizante envolve riscos, mas nunca foram publicados estudos muito desenvolvidos sobre os dados epidemiológicos conclusivos acerca da exposição humana ao urânio empobrecido e sua correlação com a ocorrência de patologias específicas como o cancr. Contudo o governo do Reino Unido atendeu ao pleito de um veterano da Guerra do Golfo sob a alegação de intoxicação por urânio empobrecido, além de defeitos congênitos em seus filhos concebidos após sua atuação na guerra.

Enfim, mais um passo para a libertar a Ucrânia dos ucranianos.»

Carlos Matos Gomes (1)

«Porque já começo a ler asneiras sobre urânio empobrecido, se calhar convém explicar o que raio é isso.

Toda a gente sabe que o urânio é um elemento radioativo, certo? O que pelos vistos nem toda a gente sabe é que aparece naturalmente em várias variedades, denominadas isótopos, e cada uma tem propriedades específicas. São todas radioativas, mas algumas são muito mais radioativas do que outras.

A variedade de urânio tipicamente usada em aplicações nucleares, sejam civis, sejam militares, é o urânio 235, uma forma bastante radioativa mas estável o suficiente para poder ser armazenada durante algum tempo. Minério natural é tipicamente tratado para aumentar a concentração de U-235. O que fica para trás é o urânio empobrecido. Este, sendo radioativo, é-o tão pouco que não serve para combustível nuclear e até pode ser manuseado sem qualquer problema porque a radiação que emite é pouco superior à radiação ambiente a que estamos permanentemente sujeitos.

O urânio (todo ele) tem também uma outra característica relevante para a conversa que surgiu agora: é um metal particularmente pesado. Muito mais pesado do que o chumbo, que costuma servir de referência quando a conversa é metais pesados. E ISSO tem interesse para os militares.

Lembram-se da física do secundário? Da fórmula da energia cinética? E = 1/2 m v²?

Ora bem, uma das coisas que interessa quando se desenha projéteis é a sua capacidade de penetração, e esta depende em parte da energia cinética que o projétil transporta. Já na época das catapultas isso era válido, e continua a ser hoje.

E da formulazinha facilmente se deduz que há duas maneiras de aumentar a energia cinética: aumentando a velocidade ou a massa do projétil.

Mas não é só a massa que tem importância. Um quilo de chumbo penetra nas coisas muito melhor do que um quilo de esferovite. Porquê? Porque um quilo de chumbo ocupa um volume muito mais pequeno. O chumbo é muito mais denso.

E o urânio é muito mais denso do que o chumbo.

Já perceberam, não é? Os militares gostam dos projéteis de urânio empobrecido porque o urânio é tão pesado que os projéteis penetram nos alvos com relativa facilidade.

Mas há uma coisa que esses projéteis decididamente NÃO SÃO: armas nucleares.

Portanto se alguém vos tentar vender essa treta de que o urânio empobrecido é uma arma nuclear já sabem que estão perante um ignorante, um idiota, um vigarista ou uma mistura destas coisas.

(Ou, no caso do Putin, um nazi)»

Jorge Candeias (2)

«Sobre o envio por Londres à Ucrânia de munições com urânio empobrecido, a imprensa portuguesa dedicou-se a explicar a função militar que serve e evitou falar dos bombardeamentos no Iraque e Jugoslávia. Percebe-se porquê. Não importa que se diga o que aconteceu com os civis.

Segundo o AbrilAbril, sem o apoio da ONU, a NATO bombardeou a Jugoslávia com cerca de 10 a 15 toneladas de urânio empobrecido, o que teve como consequência um número indeterminado de mortos por cancro causado pelas radiações. Os casos relacionados com doenças oncológicas aumentaram para 5 vezes mais.

De acordo com a Al Jazeera, no Iraque, estatísticas oficiais mostram que, antes da Primeira Guerra do Golfo, em 91, a taxa de casos de cancro era de 40 em cada 100 mil pessoas. Em 95, aumentou para 800 em 100 mil pessoas, e, em 2005, duplicou para pelo menos 1.600 em 100 mil pessoas.

O The Intercept chegou a revelar um estudo publicado na revista Environmental Pollution, década e meia após a invasão do Iraque pelos EUA, em 2003, que concluía que bebés nasceram com deficiências devido à presença militar no Iraque. O relatório, publicado por uma equipa de investigadores médicos independentes examinou anomalias congénitas registadas em bebés iraquianos nascidos perto da Base Aérea de Tallil, uma base operada pela coligação militar estrangeira liderada pelos EUA. De acordo com o estudo, os bebés que apresentavam defeitos congénitos graves – incluindo problemas neurológicos, doenças cardíacas congénitas, e membros paralisados ou em falta – tinham também níveis elevados correspondentes de um composto radioactivo conhecido como tório nos seus corpos.»

Bruno Carvalho (3)

«U238 Urânio empobrecido

O Urânio empobrecido é um subproduto do ciclo de produção de energia nuclear que se obtém de duas formas.

No processo de enriquecimento para ser usado nas centrais nucleares fazendo aumentar os teores de U235 de 0,71 ou 0,72% para valores entre 0,2 a 0,5% por grama.

Ou resulta como subproduto da fissão em central nuclear no conjunto dos resíduos radioactivos produzidos.

O tempo de vida média de radioactividade é de biliões de anos. O que significa para a escala de tempo humana, é para sempre.

Não há pesquisas conclusivas sobre os riscos dos efeitos radioactivos.

Mas há comprovações laboratoriais de ser tóxico para os mamíferos,

Atacar o sistema reprodutivo e desenvolvimento do feto.

A exposição crónica poder provocar leucemias, mutações no ADN,

E ser neurotóxico (provocar lesões no sistema nervoso).

Por curiosidade os tribunais no Reino Unido deram razão a um veterano da Guerra do Golfo que foi contaminado por urânio empobrecido.

Pela sua característica de dureza, pode ser usado em munições.

Usar munições de urânio empobrecido em campo de batalha é como todos percebem, semear componentes radioactivos. É a disseminação de um produto que irá ter consequências na contaminação dos solos, na cadeia alimentar e no contacto directo que provocará as consequências já descritas e perdurará para sempre no solo ucraniano.

É sujeitar um território a uma acção de dispersão de produtos de contaminação radiológica.

É ainda de lembrar que as bombas sujas são feitas destes subprodutos das centrais nucleares.

Comporta a escalada para o patamar radiológico da guerra.»

Antonio Regedor (4)

(1) No Facebook em 22/03/2023.

(2) No Facebook em 22/03/2023.

(3) No Facebook em 23/03/2023.

(4) No Facebook em 28/03/2023.

Última Actualização: 29/03/2023