Israel: acordei em Outubro de 2023, por Maria Clara Assunção

(Aviso: O título é da minha responsabilidade.)

esta imagem é de 2021

«Embora, desde os tempos da faculdade, eu apoie a autodeterminação palestiniana, o facto é que eu não sabia nada da história da Palestina e acreditava que IsraeI tinha sido construída sobre uma terra inóspita e quase desabitada. Admirava profundamente o povo de IsraeI e a sua capacidade de transformar um deserto num dos países mais desenvolvidos do mundo.

Também acreditava que o tinham feito sem ajuda de ninguém, que tinham sido abandonados à sua sorte, rodeados de ferozes inimigos que os odiavam só por serem judeus.

Acreditava que tinham desenvolvido um poderoso exército com a mesma determinação com tinham feito florescer o deserto.

Acreditava que os judeus eram um povo de inteligência superior, de coragem inquebrantável e de determinação à prova de tudo.

Também acreditava que IsraeI era um luminoso oásis de Democracia e de progresso num deserto obscurantista de fundamentalistas religiosos, de costumes bárbaros e doentiamente misóginos.

Acreditava, em suma, em toda a propaganda sionista, com a simples ressalva de que, apesar de tudo isto, os Palestinianos não podiam continuar eternamente num limbo e tinham o direito de ter o seu próprio país; como os Irlandeses, como os Bascos, como os Curdos, como os Sarauis. Como os Timorenses.

Comecei a sair desta bolha de propaganda a 9 ou 10 de Outubro de 2023, quando, após o choque inicial com as notícias (falsas) de bebés decapitados e grávidas esventradas — que só confirmavam a propaganda —, assisti horrorizada à “resposta” Israelita.

Por esses dias fui de férias para o Brasil e, durante quase um mês com poucos acessos à net, fui vendo noticias esporádicas do terror Israelita.

Ao contrário de demasiados dos meus amigos e conhecidos, abri os olhos. Tal como a senhora do filme que aqui publico, comecei a fazer perguntas, a procurar informação credível.

Encontrei-a inicialmente na net. Websites sobre o Médio Oriente, páginas de Judeus israelitas e americanos, websites sionistas, debates em televisões.

Aprendi que Sionismo e Judaísmo não são a mesma coisa, que não são sequer compatíveis.

Descobri que existem milhões de Judeus em todo o mundo que defendem os Palestinianos.

Li pela primeira vez sobre a Nakba, de que nunca tinha ouvido falar.

Fiquei a saber que IsraeI é o terceiro maior exportador de armas do mundo.

Vi e ouvi o discurso de ódio de Israelitas contra os Palestinianos.

Depois procurei informação publicada em papel. Existe pouca disponível em português mas é suficiente para ter a visão mais completa da cronologia, dos antecedentes, dos protagonistas de uma História tenebrosa de colonialismo, expropriação, racismo, limpeza étnica e extermínio cobarde; e, ao mesmo tempo, de resistência, coragem e resiliência de um povo submetido mas nunca submisso.

Tudo com a complacência cobarde da Europa e com o apoio activo dos Estados Unidos.

Ah, Clara, parece que estás a fazer propaganda…

Se estivesse não seria criticável. Mas não estou. Estou apenas a exprimir a minha revolta (contra mim mesma também) pela forma displicente como a maioria dos Portugueses ainda encara este conflito (eufemismo deliberado).»

Maria Clara Assunção (1)

«Está a ser muito difícil lidar com as minhas emoções, neste momento.

Estamos habituados aos filmes sobre o Holocausto, aos documentários sobre a Alemanha nazi mas é tudo no passado.

De repente, está tudo a repetir-se, diante dos nossos olhos, e parece que o mundo não aprendeu nada. Pior, os mesmos que enchem a boca com o Dia D, com o combate ao Nazismo, com a memória do Holocausto, os MESMOS são agora coniventes e colaboradores activos de um crime em nada melhor — em NADA MELHOR — do que o Holocausto.

E a Europa em silêncio, e o governo de Portugal em silêncio, e a maioria dos portugueses em silêncio.

Isto deixa-me de rastos. Que país é este?!»

Maria Clara Assunção (2)

(1) No Facebook em 19/06/2024.

(2) No Facebook em 20/06/2024.