Ofensiva dos proprietários: o aumento de rendas em Lisboa é insuportável, por Maria Do Rosário Vivaldo

(Aviso: O título é da minha responsabilidade.)

«No final de 2023, início de 2024, assistiu-se a uma ofensiva, sem precedentes, dos proprietários de imóveis na cidade de Lisboa. As acções de despejo no comércio tradicional multiplicaram-se, e só na teoria há limitações à subida das rendas de imóveis para habitação. Na prática basta avisar os inquilinos da “não renovação ou oposição à renovação do contrato”, tenha ele 2, 5, 10 anos ou mais, e das duas uma: ou os inquilinos aceitam os novos valores impostos, ou têm de sair; se não poderem pagar têm que dar lugar a outros. Os aumentos são da ordem dos 30/45% (por lei não deveriam ultrapassar os 6,94%). Depois do travão no Alojamento Local, os proprietários estão a converter os imóveis em alojamentos para estudantes, arrendando quartos a 500€, e despejando famílias, que não têm para onde ir porque o aumento das rendas em Lisboa está a ter um efeito dominó em todos os concelhos limítrofes.

O comércio independente na baixa de Lisboa e nos bairros históricos não consegue concorrer com as grandes multinacionais e cadeias hoteleiras, e as lojas não param de encerrar. É a descaracterização total. A Discoteca Amália, o Restaurante Bota Alta, a Casa Chineza, a Barbearia Campos, a Livraria Ferin, a Casa Senna, a Sapataria e Chapelaria Lord, são algumas das lojas centenárias que fecharam as portas. Há uma necrologia extensa do comércio tradicional. Pelo menos 120 lojas das principais ruas da baixa estão fechadas há anos e o número não para de aumentar, estando muitas à venda nas grandes imobiliárias, com projectos de renovação aprovados. As zonas históricas de Lisboa transformam-se numa paisagem de abandono ou de alojamento local de luxo, hotéis e marcas globais.

Nasci em Lisboa, na freguesia de N. Sra. de Fátima, vivi 31 anos no Concelho de Lisboa, 11 anos no Concelho de Sintra, 7 anos no Concelho de Arruda dos Vinhos. Resido actualmente em Lisboa mas não sei por quanto tempo, e assisto com tristeza àquilo que se está a passar. Dia 27 de janeiro regressam às ruas as manifestações pela habitação, e eu vou estar lá.»

Maria Do Rosário Vivaldo (1)

(1) No Facebook em 18/01/2024.