«Fundo de Perdas e Danos: Fantástico.
Sem avanços nas emissões de CO2: Criminoso.
Façamos p.e. o paralelismo com a guerra da Ucrânia. Imaginemos que a Rússia assume e diz: “Sim senhora, vou pagar pela destruição que fiz na Ucrânia.” … e todos ficaríamos a pensar que finalmente chegou o bom-senso, mas depois completava dizendo: “mas a guerra, a carnificina e a destruição vão continuar…” Acho que daí ninguém interpretava isto como boas notícias. E em relação à salvaguarda da habitabilidade no planeta, foi isso que se passou na COP27.
No meio desta desilusão, consigo ainda assim dizer que este fundo de perdas e danos, que ainda ninguém sabe como vai funcionar, e que não terá o apoio dos EUA e a China que são os maiores poluidores, serviria ou servirá, para compensar as perdas materiais e humanas, de fenómenos extremos da natureza como p.e. as cheias no Paquistão que foram devastadoras.
As vidas valem dinheiro e o dinheiro vale vidas, ninguém gosta de dizer isto, mas é uma verdade incontornável. E talvez assim, de uma forma muito torta, em jeito de “utilizador-pagador” possamos explicar ao mundo que quem emite CO2 ou emitiu, tem que pagar as vidas e os bens que são perdidos por este efeito.
É uma forma muito tosca e muito atabalhoada de se começar a fazer alguma coisa, alguma justiça, mas apesar de estar extremamente desiludido com os resultados da COP27, consigo dizer que aceitação do princípio moral de que se pague pelas perdas e danos, é uma forma de aos poucos fazer a opinião pública compreender o problema.
Não estamos a falar do planeta como ser abstrato, nem (só) de ursos polares que são muito queridos, nem (só) de tartarugas com plásticos ao pescoço… Estamos a falar de vidas humanas que são perdidas com o aquecimento global, e da nossa interdependência com o habitat que nos envolve.
Já aumentou cerca de 1,2ºC a temperatura média do ar, desde a revolução industrial, sabemos que ao chegar aos 1,5ºC já temos condições de habitabilidade para largos milhões de pessoas, impossíveis, e com o que estamos a fazer neste momento, no final do século estaremos num aumento de 2,8ºC, cujas consequências não são sequer imagináveis.
Como em tudo: Razão da ciência e a bondade do coração.»
Gustavo Carona (1)
(1) No Facebook em 23/11/2022.
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