Com pulseira amarela no Hospital de Leiria

Um dia destes tive uma quebra de tensão e desmaiei. Chamaram o 112. Fui para o Hospital de Leiria, de ambulância, para descargo de consciência. Cheguei lá às 14h, de cadeira de rodas. Doía-me um pouco a cabeça. Fiquei na maldita pulseira amarela. Nos caldeirões da pulseira amarela. Aparentemente, depois de chegar ao hospital, já não precisava da cadeira de rodas e podia andar!…

Podendo andar, tive de ir à casa de banho. Tive de ajudar uma senhora em cadeira de rodas a sair de lá. As portas da casa de banho são de abertura tão fácil que corremos o risco de interromper o “serviço” de alguém. Por outro lado, são pesadas e quem está de cadeira de cadeira de rodas vê-se aflito para sair de lá.

O Hospital de Leiria precisa do dobro do pessoal que tem. E de ser ampliado. Ou então serem abertos polos noutros lados. O hospital está cheio a abarrotar e os profissionais não param. Desde o início vieram à minha mente as questões de sempre: “Quando serei atendida? Quando sairei daqui?”.

O sistema informático estava lento, como sempre. É lento há anos e não parece haver nada que motive a administração a melhorá-lo. Um sistema assim causa confusões a médicos, enfermeiras e auxiliares: para além da lentidão típica há o facto de informações importante se perderem e terem de ser inseridas várias vezes. E isso atrasa o atendimento dos doentes. Ou pior, faz com que se trate desadequadamente doentes levando a que não se cure a doença que lá os trouxe: os casos de negligencia nascem assim.

Cerca das 18h, uma enfermeira simpática veio falar comigo, perguntar o que se passava, dado que estava demorado e o médico só viria mais tarde.

Não levei carregador de telemóvel (regra nº 1: não ir para um hospital sem um carregador de telemóvel) e tive de pedir às enfermeiras se tinham. Ninguém tinha. Por fim uma anja amiga (pessoa externa ao hospital) fez-me chegar um carregador.

Às 20h jantei. Serviram-nos sopa, pão com queijo, maçã assada e gelatina. Comida de hospital.  E estar no hospital não é o sonho de ninguém. Mas não me estou a queixar.

Na maldita pulseira amarela há as macas e há os cadeirões.

As pessoas das macas são muitas e prioritárias. Deviam ter uma equipa por conta delas.

Lembro-me de ir ao hospital e ficar em cadeiras de plástico nada confortáveis. Estes cadeirões são mais confortáveis e os próprios médicos e enfermeiros têm a vida facilitada: têm espaço para colocar o necessário para fazer o diagnóstico e/pu tratar um doente sem incomodar outro. Ah, e estes cadeirões têm fichas onde é possível recarregar o telemóvel. Mas penso que ao mesmo tempo que mudaram de cadeiras para cadeirões aumentaram os tempos de espera para quem não está de maca na pulseira amarela.

Não vi profissionais da saúde parados. Só vi que são poucos para as necessidades.

Fui atendida pela primeira vez pelo médico às 20h30. Depois fiz um TAC, um eletrocardiograma e análises. E fiquei à espera de voltar a ser atendida para ter alta. Pensei que teria de ficar no hospital até ao dia seguinte, como aconteceu com muitas pessoas que estavam sentadas nos cadeirões. Mas isso não aconteceu.

Tive alta perto da meia-noite. O médico deu-me uma carta para mostrar ao médico de família. Cheguei a casa perto da última da manhã.

Estou bem.

Este texto foi escrito porque quero mais, não menos, investimento no SNS. Mais recursos humanos e melhores ordenados. Melhores equipamentos.

Tenho de agradecer o trabalho dos profissionais de saúde do Hospital de Leiria.

Tenho de agradecer também às anjas amigas (pessoas externas ao hospital) que me ajudaram.